sábado, 24 de maio de 2014

A Grande Certeza Universal

     
     Considerando o Luto e a Melancolia, podemos pensar a relação entre os dois. A nossa existência é movida pela grande certeza universal: A Morte. Eu não sei quando, mas sei que irei morrer no futuro. 
     A modernidade  e seu homem fragmentado transformou a imagem da morte num grande monstro, aquilo que é incomensurável e que se evita pensar/falar. A morte enquanto finitude é a grande ceifeira da vida, da existência, e o homem que vivencia o morrer (processo) se angustia ao refletir que "ela" chegará, cedo ou tarde.
     Pode-se dizer que a angústia é filha e fruto da morte. Esta, que é a possibilidade das impossibilidades, é a verdade que o homem pode chegar a não realizar nem vivenciar aquilo que gostaria e planejou. Por isso ele se angustia, pois ele necessita usar do tempo que dispõe para criar possibilidades no plano de sua existência, já que é uma dimensão efêmera. A vida é efêmera. E a possibilidade de que podemos morrer a qualquer instante traduz a angústia, mas valida sobretudo o discurso de que é necessário fazermos da existência um plano bem vivido.
     A morte é o fim de um ciclo. O começo de uma nova vida. Tanto a morte quanto o seu fruto  angustiante são inevitáveis. Porém, o que se faz do processo, como se lida com essa verdade na existência é o que traduz o verdadeiro significado do morrer. Se morrerei amanhã, eu devo viver o hoje.
    O Luto, no entanto, se revela como o processo elaborado após a perda do objeto amado, aquele para qual era direcionado o investimento libidinal. O sujeito encontra-se nesse processo consciente de qual/quem se trata o objeto perdido. E o desinvestimento afetivo se dá exteriormente; a perda de interesse é direcionado ao mundo, que perde significância como consequência da morte do objeto (significado, valor).
    O processo de reinteresa desse interesse é doloroso e continuo; leva certo tempo, -tempo este que apesar do luto, não afeta autoestima do sujeito-, para que o Eu esteja livre para a recuperação de sua libido e o direcionamento de afeto para um novo objeto substituto.
     A melancolia traduz o estado de permanência desse luto, onde o desinvestimento ocorre de fora para dentro, e está intrínseco no Eu do sujeito. Ao contrário do Luto, o sujeito melancólico apresenta significativa perda de autoestima. Trata-se de um quadro complexo numa relação de ambivalência com o objeto. Objeto este que foi perdido mas não se faz consciente no sujeito, não sabe-se o que se perdeu, ou o que se perdeu em alguém. Denota o retorno narcísico do investimento libidinal, onde parte do Eu para o Objeto, que quando perdido retorna para o Eu numa tentativa de identificação.
     O melancólico demonstra a autodepreciação e necessita de um público para se auto-desprezo, ele se odeia e se nega, porém toda a raiva e o remorso que sente por si é na verdade uma tentativa simbólica de direcionar tais investimentos ao objeto.

"Eis um pequeno fato: Você vai morrer. Com absoluta sinceridade, tento ser otimista a respeito de todo esse assunto, embora a maioria das pessoas sinta-se impedida de acreditar em mim, sejam quais forem os meus protestos. Por favor, confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo." A Morte- A Menina que Roubava Livros- Makus Zusak 

     Refletindo sobre a brevidade da vida, me vêm à tona a sede de vida adolescente pela qual todos nós já passamos ou ainda  vivemos. A emergência de viver tudo, e viver o mais rápido possível  vem mostrar o quão o adolescente necessita de suas próprias verificações de experiências. É um momento em que o sujeito começa a pensar sobre os cursos da vida, e onde as escolhas começam a se fazer necessárias. 
     É quase como se o sujeito adolescente tudo pudesse. Como se a virilidade, a força, a necessidade de imposição enquanto sujeito que está se desprendendo das figuras paternais, lhe garantisse um escudo diante dos perigos da sociedade contemporânea, como se o adolescente fosse imune à selvageria da vida. É um grito, e um grito que diz: "Liberdade!"
     Uma série que eu particularmente aprecio muito, e que trata muito bem esse sentimento juvenil de ser "Invencível e Intocável", é a série Skins (também conhecida no Brasil como Juventude à Flor da Pele) é uma série britânica do gênero drama adolescente que acompanha as vidas de um grupo de adolescentes em BristolSudoeste da Inglaterra, pelos dois últimos anos do ensino médio. Suas histórias polêmicas têm explorado questões como famílias disfuncionaistranstorno mental (tais como disfunções alimentares), sexualidade na adolescência, abuso de drogas e morte


      Podemos ver como vida e morte andam lado a lado, como elas se fundem. O quanto a brevidade e a emergência de nossos dias se faz presente, e sobretudo, o quanto deixamos de viver por estarmos enforcados pelos sistemas de manutenção da ordem social, e pela rotina que desgasta e enfada nossa subjetividade e nossos sentimentos.  
     Como diz a cantora Pitty em sua música Semana Que Vem:
Não deixe nada pra depois, não deixe o tempo passar
Não deixe nada pra semana que vem 
Porque semana que vem pode nem chegar.
Esse pode ser o último dia de nossas vidas 
última chance de fazer tudo ter valido a pena. 
Diga sempre tudo que precisa dizer 
Arrisque mais, pra não se arrepender.
Nós não temos todo o tempo do mundo 
E esse mundo já faz muito tempo 
O futuro é o presente e o presente já passou 
O futuro é o presente e o presente já passou. 


   


     Dedico esta postagem ao professor Taciano Valério, não pelo caráter do conteúdo, mas sim por ter sido e ser um excelente professor, que com sua bagagem cultural, seus ensinamentos e sabedoria, conseguiram me fazer ser uma pessoa melhor na busca de sempre obter mais conhecimento. Sempre passando tanto conteúdo de suma importância para a construção de seus alunos e dividindo informações preciosas conosco.  Obrigada, subjetividade em pessoa.


Postagem pela aluna: Ariane Menezes
Fontes: Construção autoral da AP1-Teorias da Subjetividade. Sobre a Morte e o Morrer- Elisabeth Kübler-Ross.  O Adolescente e a Liberdade- Arminda Aberatury. Tumblr. A Menina Que Roubava Livros- Makus Zusak. Google.
Publicado: 27.03.2014 / 2002/ 1981 / 25.01.2007/ 2005
Edição: Ariane Menezes

6 comentários:

  1. Texto muitíssimo lindo! É muito bom ver uma colega crescer.. Parabéns:)

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  2. Muito bom o texto, e a música da cantora Pitty diz tudo.

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  3. Ás vezes a gente acaba nem se dando conta de que as melhores coisas da vida está no viver o hoje, pois o nosso futuro é incerto, o nosso amanhã é uma incerteza. Deixar de viver esse sistema falho e passar a valorizar mais as coisas simples que estão à nossa volta, porque elas passam, tudo passa. Lidar com a morte é isso, se frustar a cada segundo, pois daqui há 10 minutos, são 10 minutos a menos na nossa vida e 10 minutos a mais na nossa história quando bem aproveitado. Parabéns Ari, você é uma grande admiração pra mim. Obrigado por suas doses diárias de conhecimento. Te amo. <3

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  4. É sempre um grande mistério falar em morte. Ninguém sabe o que se passa nesse campo. Gostaria de compartilhar com vocês a experiência de um pai que iria morrer em pouco tempo e deixou para a sua filha de poucos meses uma mensagem de amor: https://www.youtube.com/watch?v=pMdoq7F_XLQ
    Ari, obrigado por nos lançar nesse campo tão complexo, sua inteligência é contagiante. Amo você

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