quinta-feira, 29 de maio de 2014

O Que Querem de Mim?


     Com a psicologia na virada do século XX e com as guerras mundiais surgem as perspectivas de contra- cultura, onde transgredir significou romper com a ordem social, cultural, familiar e política e o adolescente vestiu muito bem estes ideais. Em uma linha sócio-histórica, Calligaris compreende a adolescência como uma espécie de invenção cultural, ele assume o ideal do sujeito a partir de uma relação sociocultural, que teve impulso no período pós-segunda guerra, onde começou a surgir a rebeldia por parte destes “adolescentes” que se manifestavam das mais inusitadas maneiras, pois traziam inconscientemente a tarefa de realizar os sonhos frustrados de seus pais, agora os adolescentes eram a concretização do escape das vozes reprimidas de seus pais que se lamentavam cada vez mais por não ter mais o controle sobre seus filhos.     Movida por uma série de inquietações acerca das transformações interiores e exteriores causadas pelo período de moratória que lhe impede simbolicamente de entrar no contexto social do mundo dos adultos, a problemática adolescente vai muito além de uma época da vida, no momento do adiamento da adolescência e rebeldia são quase sinônimos. O adolescente púbere é intimado a uma série de desalojamentos e reconfigurações sobre sua mente, seu corpo e o mundo que lhe rodeia. A angustiante estranheza na relação com este corpo submetido a drásticas modificações, causa-lhe questionamentos conflitantes que gritam por entendimento.

Eu não vou me adaptar  
Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia 
Eu não encho mais a casa de alegria 
Os anos se passaram enquanto eu dormia 
E quem eu queria bem me esquecia. 
Será que eu falei o que ninguém ouvia? 
Será que eu escutei o que ninguém dizia? 
Eu não vou me adaptar, me adaptar 
Eu não vou me adaptar, me adaptar 
Eu não vou me adaptar, me adaptar 
Eu não tenho mais a cara que eu tinha 
No espelho essa cara já não é minha 
É que quando eu me toquei achei tão estranho 
A minha barba estava deste tamanho 
Será que eu falei o que ninguém ouvia? 
Será que eu escutei o que ninguém dizia? 
Eu não vou me adaptar, me adaptar 
Não vou me adaptar! 
Me adaptar! ♪


     Esta musica parece-nos estabelecer de maneira significante uma ponte sobre o discurso do adolescente com relação aos medos vivenciados tanto pelas transformações de seu corpo quanto pelo desligamento dos pais, onde ele agora tem que encontrar um novo caminho para sua atuação pulsional e se constituir como um sujeito autônomo e desejante em um momento de integração do que foi transcrito pelo grande outro e que agora tende a deslocar-se. Este grande outro agora referencia-se apenas como simbólico, pois então começa a inventar a reposicionar e resignificar o que já não existe mais. Longe mas não distante, o infantil estará para sempre presente como convicção da certeza mítica deste grande outro. A pulsão precisa encontrar uma via criativa de objetos de satisfação libidinal, os pais não podem mais bastar, porque o adolescente precisa realizar-se sexualmente, também não bastam mais como “verdade” e como “saber”, então o adolescente carece ser empreendedor deste desligamento da autoridade dos pais, que lhe é necessária. A reedição da problemática edípica vivenciada por cada sujeito dar-se desta forma com a saída deste grande outro, que não está mais materializado em ninguém, mas agora é desencarnado e simbolizado indo para o campo da não garantia. 
      Hoje estão inseridos em uma realidade que lhes cobra muito, a informação chega cada vez mais rápida e cada vez mais difusa em ideais de capitalização e globalização, enquadradas em seus peculiares conflitos, os adolescentes estudam, amam, brigam, trabalham, travam verdadeiras batalhas como as transformações corporais que vez ou outras lhe atropelam. Eles se constituem de uma incansável busca e de vários universos de encontros e desencontros, e tem que se adaptar a nova roupagem que se encontra a família contemporânea. Talvez não estejam preocupados com responder a pergunta clássica da adolescência: O que querem de mim? Mas apenas em serem postos em um lugar de compreensão e empatia.

Afeto, amor, compreensão - eis os alicerces da vida. 
Escrevemos com amor o poema da adolescência. 
Com a música do amor, orquestramos a grande canção da existência. 

E tu, cético diante da ternura, 
impermeável ao sentimento, 
aprendes esta verdade: 
A vida é Amor, e nada mais! 

(Omar Rubáiyát)


Postagem pela aluna: Géssica Gomes
Fontes: Texto autoral.Youtube. Letras
Publicado: 29.05.2014/ 07.02.2007
Edição: Ariane Menezes

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