terça-feira, 27 de maio de 2014

Correntes Pinópticas da Escravidão Comtemporânea


     A escravidão se caracteriza pela sujeição de um homem pelo outro, de forma tão completa, que não apenas o escravo é propriedade do senhor, como sua vontade está sujeita à autoridade do seu dono e seu trabalho pode ser obtido pela força, uma transformação de um ser humano em propriedade de outro, a ponto de ser anulado seu próprio poder de decisão, perdendo completamente sua condição de sujeito livre, aprisionado e mantido em determinado local onde permaneça sob custódia e vontade de seu comprador e então dono, onde a este, cabe poder de decisão, de condenação e punição. O escravo que infringe as leis de seus donos sofre punições, sendo mantido preso por correntes de ferro para sua total imobilidade. 
     A história da humanidade é cercada por vários viés de escravatura, praticada pelas mais diversas civilizações. Na antiguidade a escravidão era uma situação aceita, e logo foi entendida pelas lideranças como sendo a forma mais rápida de crescimento e controle econômico e social, a partir daí, até os  dias atuais o que move os eixos da escravidão é o jogo da vigilância e do poder. Neste contexto o filosofo Michel Foucault grande pensador do século XX  explana que ao longo da história houve pontos que não foram narrados, que foram escondidos, ele vem chamar isto de pontos em descontinuidade, diante disto percebe que a história foi construída através de uma serie de interesses e posturas que forjam a realidade dos fenômenos procurando priorizar as metas a cerca de determinados fenômenos, ou seja, este não dito está ligado a movimentações sociais que fogem das normas padronizadoras, como por exemplo, a loucura, que na sua constitucionalidade comporta uma história de deslocamento social. Foucault desconfia do que está por trás destes fenômenos, procurando certas evidencias que se manifestam às escuras, no entanto não são apresentadas nos acontecimentos. Desta forma ele influencia diretamente na reforma psiquiátrica porque procura a verdade da loucura, não a verdade sobre a loucura, mas sobre o discurso que rege a história da loucura, analisando uma série de evidências que estão postas nos manicômios, na literatura, na igreja, na poesia e nos relatos etnográficos e históricos sobre o que aconteceu com a formação e a verticalização do mundo dos denominados loucos até chegar ao entendimento das novas categorias que a psiquiatria adota.           Foucault chega então à conclusão que em dado momento acontece uma legitimação da verdade humana como sendo absoluta, o homem como portador do entendimento real e concreto que é adquiro pela sua capacidade de discernimento sobre as coisas a partir da lucidez obrigatória que o homem tem que ter sobre o que é ou não de ordem lógica. Então seguindo esta linha de pensamento Foucault vem compreender como sendo a sexualidade um dispositivo de poder que é manipulado ao longo da historia pela igreja a partir do ato de confissão, e tal como nos conhecimentos dissolvidos na sociedade, para ele o interesse que está por trás desses conhecimentos é o de tudo saber para tudo poder, sendo assim dizer o que deve ou não ser feito, o que pode ser criado e o que deve ser proscrito e enxerga isso como sendo o principio da negatividade. A partir destas ideias podemos considerar o modelo panóptico estudado em outro momento pelo filósofo, como exemplificação concreta do poder disciplinar da sociedade moderna, onde este funciona cada vez mais como ferramenta que fabricam sujeitos úteis por estarem sujeitados em suas gaiolas, respondendo somente quando são perguntados. 
     A contemporaneidade faz sujeitos escravos de uma nova versão do projeto panóptico, a atual configuração de sociedade está cercada por este mesmo dispositivo de poder e de monitoramento ao qual Foucault relaciona com a repressão da sexualidade, a hipótese repressiva encaixa-se perfeitamente neste novo modelo de sociedade que verticaliza cada vez mais as relações sobre a sexualidade e o poder. Não muito distante do ideal escravagista e tão pouco das perspectivas de vigilância e poder emergentes na modernidade, os sujeitos contemporâneos estão acorrentados por dispositivos de vigilância que regem cada movimento, assim como antes; escravos, assim como antes: disciplinados pela monitoração. O capitalismo encaixa a subjetividade contemporânea em recortes manipulados que são extraídos de cada ação que o sujeito desenvolve e isto se dá por meio da vigilância nossa de cada dia que lhes damos hoje e sempre amém a fim de tornar-nos presos a ideais de segundos, terceiros e até de um sistema, incapazes de pensar, de estabelecer relação entre sua vontade e a imposição disciplinar difusa nas mãos de quem vigia.
     Em uma analogia a musica de Engenheiros do Hawaii “3ª Do Plural”:


Corrida pra vender cigarro 
Cigarro pra vender remédio 
Remédio pra curar a tosse 
Tossir, cuspir, jogar pra fora
Corrida pra vender os carros 
Pneu, cerveja e gasolina 
Cabeça pra usar boné 
E professar a fé de quem patrocina
Eles querem te vender 
Eles querem te comprar 
Querem te matar (de rir) 
Querem te fazer chorar
Quem são eles? Quem eles pensam que são? 
Quem são eles? Quem eles pensam que são?
Quem são eles? Quem eles pensam que são? 
Quem são eles? Quem eles pensam que são?
Corrida contra o relógio 
Silicone contra a gravidade
Dedo no gatilho, velocidade 
Quem mente antes diz a verdade
Satisfação garantida 
Obsolescência programada
 Eles ganham a corrida 
Antes mesmo da largada
Eles querem te vender 
Eles querem te comprar 
Querem te matar (a sede)
 Eles querem te sedar
Quem são eles? Quem eles pensam que são? 
Quem são eles? Quem eles pensam que são?
Quem são eles? Quem eles pensam que são? 
Quem são eles? Quem eles pensam que são?
Vender, comprar, vendar os olhos 
Jogar a rede... contra a parede 
Querem te deixar com sede 
Não querem te deixar pensar
Quem são eles? Quem eles pensam que são? 
Quem são eles? Quem eles pensam que são?
Quem são eles?



Postagem pela aluna: Géssica Gomes
Fontes: A História da Loucura- Michel Foucault. Youtube.

Publicado: 1978/  12.07.2008
Edição: Ariane Menezes

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