Os valores de aparência e juventude, nos últimos tempos, têm dominado a
sociedade contemporânea de forma tão intensificada que esta, tem ao corpo
apenas como um suporte, um lugar de modificações constantes a fim de se
concretizar a ideia que se faz desse corpo. Geralmente, ideia essa que segue o modelo imposto pelas indústrias cosméticas, farmacêuticas, pela mídia, etc.
Para seguir este modelo ideal (inalcançável) se faz necessário consumir e
sofrer. Consumir no sentido de adquirir desenfreadamente coisas
desnecessárias à sobrevivência. Sofrer, por exemplo, ao ter que realizar terríveis dietas com objetivo
estético, ter que malhar praticamente todos os dias, fazer uso de
complemento alimentar para ganhar massa muscular, ter que fazer
cirurgias plásticas, enfim, comportamentos carregados de sofrimento.
Será o corpo apenas a união de partes da carne, ligadas por articulações
que realmente necessita sofrer para sentir prazer? Será que precisamos
seguir o modelo para nos constituirmos enquanto sujeitos?
A busca pela “perfeição” corporal que segue o modelo, em alguns casos,
pode deixar o sujeito susceptível ao uso de medicações psicotrópicas,
devido à pressão social exercida sobre ele com a pretensão de adaptar o
corpo ao que a própria sociedade dita. Medicação é droga, e, por isso, é capaz de fabricar dependentes; é capaz
de fazer com que o usuário tenha visões “irreais”, alem de mascarar uma
subjetividade conceituando-a como louca. Loucura, na concepção da maioria das pessoas, corresponde a inadaptação
de um ser às normas sociais, bem como, infelizmente ainda é considerado
uma doença. Doença remete às idéias de risco e periculosidade social
que vem instituir um espaço hospitalar que objetiva tratar e punir tais
doentes mentais. Com o tempo e a reforma psiquiátrica, muita coisa
mudou, mas o preconceito, a exclusão e o conceito da loucura não
evoluíram tanto assim.
As representações sociais expõem como os sujeitos que estão fora do
modelo são vistos, entendidos e classificados. Se o sujeito dispõe de um
peso maior que o “adequado”, este é tido como o gordo, o preguiçoso, o
guloso, o obeso etc. Se seu peso está abaixo do “ideal” este também não
escapa dos adjetivos negativos. E os que não estiverem dentro do padrão
serão também excluídos e vitimados do preconceito. Preconceito e
exclusão não estão apenas na linguagem, mas no comportamento e no
pensamento.
Sendo isto, foi realizada uma pesquisa de natureza quantitativa/qualitativa
utilizando-se de um questionário como instrumento de coleta de dados no
município de Santo André-SP, em uma escola de rede particular. Essa
pesquisa teve uma amostragem de 147 adolescentes, que corresponde a 50%
dos alunos matriculados nesta escola. Dentre estes adolescentes, 35,40%
do sexo masculino e 64,60% do sexo feminino com faixa etária entre 10 e
14 anos. Nesta pesquisa, que tem como tema: Excesso de peso e
insatisfação corporal em adolescentes verificou-se que 18,9% das meninas
e 44,2% dos meninos apresentaram sobrepeso. Com isso, foi observado que
as meninas, de forma mais intensa que os meninos, sofrem com baixa
auto-estima. Essa pesquisa vem indicar que os adolescentes sentem-se
pressionados pela mídia a seguirem um padrão, o qual “ordena” aos que
tem sobrepeso que precisam fazer de tudo para perder uns quilinhos e aos
quem tem baixo peso realizar uma dieta a fim de ganhar quilos e ficar
na “medida certa”, fugindo do ridículo.
Assim, percebe-se que não é apenas o adulto que está alienado nesta onda
de corpo “perfeito”, o adolescente também, de forma até mais
consistente, está inserido nesta lógica do consumo e da perfeição, pois
está vivenciando um momento em que deseja ser reconhecido como adulto e
age como lentes de aumento da sociedade sempre denunciando algo
teoricamente implícito.
Diante de tudo isso, é notório que por trás
do imperativo social de aparência e juventude há o medo da morte. A
morte é representada no corpo e isso faz surgir à necessidade de
adiamento desse inevitável instante. Com a tentativa do “não
envelhecimento” e da boa aparência procura-se driblar a única certeza da
existência: a morte, que tarda, mas não falha.
Postagem pela aluna: Cinthya Alves
Fontes: ScieloBrasil- Revista de Nutrição. Google imagens. Adeus ao corpo: Antropologia e sociedade – David Le Breton
Fontes: ScieloBrasil- Revista de Nutrição. Google imagens. Adeus ao corpo: Antropologia e sociedade – David Le Breton
Publicado: Jul/Ago. 2005 / 2011
Edição: Ariane Menezes
Muito bom!
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